Baixa umidade do ar agrava problemas na voz

Nos meses de agosto e setembro, Goiás deve registrar baixíssimos índices de umidade do ar e atingir 10%, alerta o Cimehgo

O inverno é uma estação conhecida pela baixa umidade do ar em Goiás. Em julho foram registrados baixos índices de umidade do ar no Estado e a previsão, segundo o Centro de Informações Meteorológicas de Goiás (Cimehgo), é que em agosto e setembro o índice deve atingir 10% no Estado. A diminuição da umidade pode ter diversos efeitos na saúde e uma área particularmente sensível é a saúde vocal. O problema se torna ainda mais grave quando a voz é usada como instrumento de trabalho.

A respiração do ar desempenha um papel crucial na manutenção da inspiração das cordas vocais. Quando o ar está seco, as cordas vocais tendem a ficar ressecadas, o que pode levar a uma série de problemas. A médica otorrinolaringologista Juliana Caixeta alerta que por conta da baixa umidade do ar, a garganta fica ressecada, podendo gerar rouquidão, falta de ar e até dificuldade para engolir. 

Isso porque as duas pregas vocais são revestidas por uma mucosa que precisa estar hidratada para vibrar melhor e produzir um som mais confortável e limpo. A hidratação das pregas vocais não é imediata após a ingestão de água. “As cordas vocais ficam na laringe, que faz parte do sistema respiratório, ou seja, por lá, só passa ar. Com isso, a água que bebemos demora cerca de uma hora para chegar aos tecidos do corpo, dentre eles a mucosa, por meio do processo de absorção sistêmica”, explica a médica Juliana Caixeta.

A especialista afirma que, dessa forma, a hidratação ao longo do dia é recomendada para que as estruturas responsáveis pela produção da voz estejam sempre lubrificadas, com boas condições de mobilidade das pregas vocais. “A recomendação é beber, em média, oito copos de água distribuídos ao longo do dia, dando pequenos goles durante as atividades de rotina, principalmente nos intervalos de exercícios físicos ou quando se utiliza a voz como instrumento de trabalho”, orienta. 

Dentre os fatores que podem prejudicar a hidratação das cordas vocais estão ar-condicionado e ventilador. Como nos meses de agosto e setembro costuma fazer muito calor em Goiás, estes equipamentos são quase que indispensáveis para o bem-estar. Outros vilões contra a voz são o cigarro, o álcool e a alimentação inadequada. 

“É muito comum as pessoas pigarrearem quando estão com problemas de voz e, naquele movimento, fazerem um ‘puxa e encolhe’ de toda a musculatura da prega vocal. É uma agressão e, com o passar dos anos, esse movimento pode causar lesões nas fibras e musculaturas das cordas vocais, podendo surgir nódulos ou pólipos”, explica a médica Juliana Caixeta.

Cuidados

A médica Juliana Caixeta enumera alguns cuidados necessários para cuidar da saúde vocal durante o inverno e alerta que é importante adotar algumas medidas simples. “A primeira delas é garantir uma hidratação adequada. Beber água regularmente ajuda a manter as cordas vocais hidratadas, mesmo em ambientes com baixa umidade. Além disso, evite o consumo excessivo de cafeína e álcool, pois eles podem contribuir para o ressecamento da garganta”, orienta.

Outra medida importante é usar um umidificador de ar em casa ou no ambiente de trabalho. Os umidificadores aumentam a umidade do ar, proporcionando um ambiente mais favorável para a saúde vocal. É recomendado usar um umidificador especialmente durante a noite, pois é quando as cordas vocais estão em torpor e mais propensas ao ressecamento.

Além disso, é fundamental evitar o esforço vocal excessivo. Falar alto ou gritar pode causar um estresse adicional às cordas vocais, especialmente quando estão ressecadas devido à baixa umidade. Portanto, tente fazer pausas frequentes para descansar a voz e evite situações em que precise falar em um ambiente barulhento.

Se os sintomas e incômodos causados pelas baixas temperaturas e baixa umidade persistirem ou se tornarem mais intensos, é necessário buscar auxílio médico, se consultar como um otorrinolaringologista. “Todas as pessoas que apresentarem sintomas como rouquidão ou falhas na voz por mais de 15 dias devem procurar um otorrinolaringologista com urgência”, recomenda Juliana Caixeta. 

As terapias para alterações na saúde vocal variam de acordo com a causa. As opções de tratamento podem ser clínicas (medicamentos e fonoterapia) ou cirúrgica. Em lesões benignas, a fonoterapia é uma das principais modalidades de tratamento, não só para tratar a lesão como para evitar a sua recorrência. 

Lesões na laringe

A voz é produzida pela laringe, onde se localizam as pregas vocais, e seu funcionamento depende de outras estruturas, como pulmão, garganta, alguns músculos do tórax e cavidades do nariz e dos seios da face. As alterações da voz podem ocorrer em qualquer idade. A mais recorrente delas é a voz rouca, mas também podem ser observados outros sintomas como voz fraca, tremor, cansaço ao falar, dor para falar e falhas na voz.

A médica Juliana Caixeta alerta que os problemas na voz muitas vezes são ignorados e que é comum as pessoas subestimarem os sintomas, por conta do senso comum de que essas alterações na voz são passageiras e se recuperam naturalmente. “Alguns sintomas podem se tornar mais preocupantes e desencadear problemas graves, por isso, é recomendado que o paciente procure o médico no caso de persistência desses sintomas”, orienta.

A causa mais comum de rouquidão no consultório médico é a laringite aguda, de causa infecciosa ou traumática, que é aquela que ocorre por esforço vocal excessivo. Mas a rouquidão também pode ser decorrente de lesões na laringe, como nódulos, pólipo, granuloma e, até mesmo, tumores. 

As lesões vocais podem ser desencadeadas tanto por hábitos cotidianos – o uso abusivo e o mau uso da voz, comum entre profissionais que a utilizam como ferramenta de trabalho, a exemplo de professores, cantores, advogados e jornalistas –, tanto por hábitos altamente deletérios, como o tabagismo e o consumo excessivo de bebida alcoólica.