Fim de ano sem sustos: endocrinologista pediátrica alerta para os riscos de desidratação e intoxicação infantil nas festas
Combinação de calor, alimentos ultraprocessados e privação de sono pode sobrecarregar o metabolismo da criança e baixar a imunidade. Especialista explica como evitar que a celebração termine no pronto-socorro
Celebrações de fim de ano costumam vir acompanhadas de um aumento significativo nos atendimentos de emergência pediátrica. Os motivos, conforme explica a endocrinologista pediátrica Marília Barbosa, vão muito além de acidentes domésticos: o organismo infantil sofre um verdadeiro “choque metabólico” com a mudança brusca na rotina alimentar e de sono, abrindo portas para quadros de desidratação, gastrites e queda de imunidade.
Diferente dos adultos, o sistema digestivo e metabólico da criança é mais sensível a grandes volumes de açúcar, sódio e gorduras, que compõem a tríade presente nas ceias de Natal e Réveillon. “Quando a criança consome uma quantidade excessiva de doces e gorduras em um curto período, o pâncreas precisa trabalhar mais para liberar insulina. Em crianças saudáveis, isso gera um estresse metabólico e mal-estar físico intenso, como náuseas e vômitos. Já em crianças com predisposição a problemas metabólicos, o risco é ainda maior”, explica Marília.
A médica chama atenção para um ponto crítico em regiões quentes como Goiás: a desidratação. “Nas festas, as crianças trocam a água por refrigerantes e sucos industrializados. Essas bebidas são ricas em açúcar e sódio, o que, paradoxalmente, apesar da ingestão de líquidos, pode piorar a desidratação celular, especialmente se a criança estiver suando muito ao brincar”, alerta.
Além disso, a especialista reforça o cuidado com a segurança alimentar. Pratos com maionese e cremes, expostos à temperatura ambiente por longas horas durante a ceia, são as principais causas de intoxicação alimentar bacteriana, levando a quadros de diarreia aguda que podem descompensar a saúde da criança rapidamente.
A privação do sono nessas datas também é uma questão de saúde física. “O hormônio do crescimento (GH) e os processos de regulação imunológica acontecem predominantemente durante o sono noturno. Noites mal dormidas em sequência deixam o organismo da criança vulnerável a infecções virais e bacterianas oportunistas, comuns nesta época do ano”, pontua a endocrinologista pediátrica.
Checklist de saúde para a ceia
Para os cuidados com a saúde física dos pequenos nesta época do ano, Marília Barbosa orienta:
Hidratação supervisionada: ofereça copos de água a cada hora, intercalando com as brincadeiras e outras bebidas. Não espere a criança pedir.
Cuidado com o “belisco”: evite deixar a criança comer livremente petiscos muito salgados (castanhas com sal, frios, embutidos) antes do jantar, pois a sobrecarga de sódio é prejudicial aos rins e aumenta a pressão arterial momentânea.
Controle do tempo de exposição da comida: crianças têm o sistema digestivo mais frágil. Evite oferecer alimentos que estão fora da refrigeração há mais de duas horas.
Higiene do sono pós-festa: se a criança ficar acordada até tarde no Natal, garanta que o dia seguinte seja de repouso e alimentação leve para recuperação metabólica, evitando emendar uma festa na outra sem descanso.